por Elaine de Sousa

O câncer de boca atinge prioritariamente os homens e, segundo a Profª Drª Izabel Maria Marchi Carvalho, cirurgiã-dentista e radiologista do Centrinho/USP, a explicação está relacionada ao fato de que eles ainda fumam muito mais do que as mulheres.

A grande preocupação dos profissionais continua sendo com relação à prevenção de doenças. "Suspeitar-se do câncer de boca em estádio avançado é extremamente fácil, o grande desafio é considerar a possibilidade de uma lesão ser maligna, a despeito da sua aparência inofensiva, especialmente porque inexistem sintomas específicos de câncer em suas fases iniciais", explica a professora Carvalho.

Infelizmente, segundo o Instituto Nacional do Câncer - INCA, 60% dos pacientes com câncer de boca, que chegam aos hospitais credenciados, já estão nos estádios III e IV, cujo tratamento não será curativo. Os sinais iniciais do câncer de boca, nem sempre notados pelo paciente, podem ser manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, ou, ainda, ulcerações superficiais assintomáticas.

Cancêres mais comuns e fatores de risco
O câncer de boca mais comum, responsável por 90% a 95% das neoplasias malignas nessa localização, é o carcinoma epidermóide, também denominado carcinoma espinocelular ou, ainda, carcinoma de células escamosas. Do ponto de vista clínico, pode-se classificar as lesões da boca em ulceradas, nodulares e vegetantes.

Essa doença pode se apresentar como uma úlcera que não cicatriza e não dói e se localizar nas seguintes regiões: lábio, língua, glândulas salivares maiores e menores, gengiva, assoalho da boca, mucosa da bochecha, vestíbulo da boca, palato e úvula. Nos estádios avançados, as úlceras ou tumorações são maiores, podendo infiltrar as estruturas adjacentes (músculos, ossos, pele, nervos, etc.). Estas lesões podem ser dolorosas, de sangramento fácil e ter odor fétido. O paciente poderá apresentar dificuldades de fala, mastigação e deglutição, além de emagrecimento acentuado.

Existem fatores ambientais que predispõem o aparecimento do câncer bucal, entre eles, destaca-se em primeiro lugar o tabagismo. “O tabaco é responsável por cerca de 90% dos casos de câncer bucal e é prejudicial tanto mascado, fumado como aspirado”, afirma a Profª Drª Izabel Maria Marchi de Carvalho, cirurgiã-dentista e radiologista do Centrinho/USP.

A Professora explica que dependendo do tipo e da quantidade do tabaco usado, os tabagistas apresentam uma probabilidade 4 a 15 vezes maior de desenvolver câncer de boca do que os não tabagistas. O uso do tabaco sem fumaça, que inclui o rapé e tabaco para mascar, já está bem estabelecido como causa do câncer bucal. Esta forma de consumo de tabaco permite que resíduos deixados entre a bochecha e a língua tenham um contato mais prolongado, favorecendo a ação das substâncias cancerígenas do tabaco sobre a mucosa bucal.

O segundo fator ambiental é o alcoolismo, responsável principalmente pelo câncer de língua e do assoalho de boca. No indivíduo que fuma e bebe as chances são ainda maiores.

Outro fator considerado de risco é a radiação solar, principal causa de câncer de lábio inferior, que está associada ao tempo de exposição e ao tipo de pele da pessoa.

A dieta também é importante
Uma dieta rica em gorduras, álcool e ferro e/ou pobre em proteínas, vitaminas (A, E, C, B2) e alguns minerais, tais como cálcio e selênio, é considerada um importante fator de risco.

O hábito de consumir bebidas ou comidas quentes, na maioria das vezes, não é considerado fator isolado tão importante, apesar da agressão térmica que causa às células da mucosa. No caso do consumo excessivo e prolongado de chimarrão, vários estudos têm comprovado um aumento do risco relativo de câncer bucal. Também não está bem estabelecida uma relação de causa e efeito entre o uso de condimentos e a neoplasia.

O consumo habitual de frutas e vegetais frescos tem sido considerado um fator protetor contra o câncer de boca. O baixo risco de desenvolvimento de câncer de boca verificado entre os indivíduos que consomem altos índices de frutas cítricas e vegetais ricos em betacaroteno é outro ponto que enfatiza a importância dos fatores nutricionais. O beta-caroteno é encontrado principalmente na cenoura, no mamão, na abóbora, batata doce, couve e no espinafre.

O tratamento
Cirurgia, radioterapia e quimioterapia são, isolada ou associadamente, os métodos terapêuticos aplicáveis ao câncer de boca.

Com relação às lesões iniciais, ou seja, restritas ao local de origem, sem extensão a tecidos ou estruturas vizinhas, e dependendo da sua localização, pode-se optar pela cirurgia ou pela radioterapia, visto que ambas apresentam resultados semelhantes, expressos por um bom prognóstico, com cura em 80% dos casos.

A cirurgia radical do câncer de boca evoluiu sobremaneira, com a incorporação de técnicas de reconstrução imediata, permitindo uma melhor recuperação do paciente. As deformidades, porém, são ainda grandes e o prognóstico dos casos, intermediário. A quimioterapia é empregada nos casos avançados, visando à redução do tumor, a fim de possibilitar o tratamento posterior pela radioterapia ou cirurgia. O prognóstico nestes casos é extremamente grave, tendo em vista a impossibilidade de controlar-se totalmente as lesões extensas, a despeito dos tratamentos aplicados.

Toda pessoa deve visitar o dentista pelo menos uma vez por ano, sobretudo as pessoas que fazem parte do grupo de risco, pois a detecção precoce de lesões precursoras do câncer bucal facilita o tratamento e melhora o prognóstico.
Suspeitar de lesões nos seguintes casos:
    fumantes e alcoólatras crônicos, principalmente quando as duas dependências estão presentes;
    indivíduos com mais de 40 anos de idade, especialmente os desnutridos;
    pessoas de pele clara que trabalham sob o sol (lavradores, pescadores, vendedores de praia, etc.);
    portadores de próteses mal-adaptadas e dentes fraturados, assim como aqueles que apresentam má higiene da boca (fatores de irritação constante da mucosa bucal).
    pessoas que consomem chimarrão de maneira excessiva e prolongada.

O que procurar?
    Mudanças na cor da pele e da mucosa da boca
    Endurecimentos
    Caroços
    Feridas
    Inchaços
    Áreas dormentes ou dolorosas
    Dentes quebrados ou com mobilidade
    Sangramentos

O auto-exame da boca
Uma das estratégias mais importantes para o diagnóstico do câncer de boca em fase inicial é o auto-exame da boca. Ele deve ser sistematicamente ensinado nas atividades de educação comunitária, em uma linguagem fácil e acessível à população. O auto-exame da boca é um método simples de exame, bastando para a sua realização um ambiente bem iluminado e um espelho, explica Izabel Carvalho. A finalidade desse exame é identificar anormalidades existentes na mucosa bucal, que alertem o indivíduo e o façam procurar um dentista.
Os passos do auto-exame:
    1. Lave bem a boca e remova as próteses dentárias, se for o caso.
    2. De frente para o espelho, observe a pele do rosto e do pescoço. Veja se encontra algo diferente que não tenha notado antes. Toque suavemente, com a ponta dos dedos, todo o rosto.
    3. Puxe com os dedos o lábio inferior para baixo, expondo a sua parte interna (mucosa). Em seguida, apalpe-o todo. Puxe o lábio superior para cima e repita a palpação.
    4. Com a ponta de um dedo indicador, afaste a bochecha para examinar a parte interna da mesma. Faça isso nos dois lados.
    5. Com a ponta de um dedo indicador, percorra toda a gengiva superior e inferior.
    6. Introduza o dedo indicador por baixo da língua e o polegar da mesma mão por baixo do queixo e procure palpar todo o assoalho da boca.
    7. Incline a cabeça para trás e abrindo a boca o máximo possível, examine atentamente o céu da boca. Em seguida diga ÁÁÁ... e observe o fundo da garganta. Depois, palpe com um dedo indicador todo o céu da boca.
    8. Ponha a língua para fora e observe a sua parte de cima. Agora, observe a parte de baixo, com a língua levantada até o céu da boca. Em seguida, puxando a língua para a esquerda, observe o lado direito da mesma. Repita o procedimento para o lado esquerdo, puxando a língua para a direita.
    9. Estique a língua para fora, segurando-a com um pedaço de gaze ou pano e apalpe em toda a sua extensão com os dedos indicador e polegar da outra mão.
    10. Examine o pescoço. Compare os lados direito e esquerdo e veja se há diferença entre eles. Depois, apalpe o lado esquerdo do pescoço com a mão direita. Repita o procedimento para o lado direito, palpando-o com a mão esquerda.
    11. Finalmente, introduza um dos polegares por baixo do queixo e apalpe suavemente todo o seu contorno inferior.

A última dica?
Procure conhecer bem a sua boca. Faça o auto-exame mensalmente e caso você encontre qualquer alteração, procure um dentista ou um médico.



(Fontes: Instituto Nacional do Câncer - INCA; Ministério da Saúde; Coordenação de Programas de Controle do Câncer - PRO-ONCO)